sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Anne Hathaway sem papas na língua

Anne Hathaway, que ficou noiva essa semana, gosta de desafios. Com apenas 24 anos de idade, enfrentou a grande Meryl Streep de igual para igual em “O Diabo Veste Prada” (2006). Um ano após faturar uma indicação ao Oscar (por “O Casamento de Rachel”, em 2009), ousou várias cenas de nudez e de sexo sem parecer gratuito em “Amor e Outras Drogas”. Neste ano, foi a apresentadora do Oscar ao lado de James Franco, representando a nova geração de estrelas de Hollywood. Além disso, teve de enfrentar o nariz torcido dos fãs de quadrinhos por sua escolha como a nova Mulher-Gato no capítulo final do Batman de Chris Nolan.

Como se não fosse suficiente, Anne ainda precisou superar as críticas pelo seu sotaque inglês em “Um Dia”, adaptação cinematográfica do best-seller homônimo de David Nicholls, que estreia no Brasil nesta sexta (2/12). E isto apesar de ela achar que tinha arrasado.

A imprensa britânica, que defende seu sotaque como a um tesouro nacional, não teve dó da tentativa da norte-americana de reproduzir a entonação da fala dos moradores de Yorkshire (norte da Inglaterra) e “terrível” foi o mais suave dos adjetivos publicados. Curiosamente, a mesma crítica nem mencionou o pseudo sotaque alemão de Kate Winslet, quando a atriz britânica ganhou o Oscar por “O Leitor” (2008) – um filme inteiramente falado em inglês com sotaque ridículo para passar a ideia de que os personagens eram alemães.

Sempre bem-humorada, Anne não se abateu. Durante sua preparação, ela contou com um professor de dialetos e procurou conversar com pessoas daquela região inglesa. E ela garante que mesmo entre os moradores não existe um sotaque padrão, já que influências externas afetam o modo de falar de cada um.

“Conheci um monte de pessoas de Yorkshire e alguns deles eram da mesma cidade, mas você não seria capaz de afirmar isso porque, dependendo de onde eles estudaram, de onde trabalharam, de onde moraram, dependendo de suas personalidades, todos tinham sotaques diferentes. Desta forma, acabou tornando-se menos um sotaque e mais uma voz pessoal de Emma”, defendeu-se a atriz, sobre a forma que escolheu para sua personagem falar.

Anne já havia arriscado um toque britânico na fala de sua Rainha Branca em “Alice no País das Maravilhas” (2010) e, antes disso, interpretou Jane Austen, escritora inglesa de clássicos como “Razão e Sensibilidade” e “Orgulho e Preconceito”, no longa “Amor e Inocência” (2007), sem muito alarde. O ataque desta vez foi maior porque o sotaque de Yorkshire é considerado particularmente difícil de ser reproduzido e também porque a obra de David Nicholls, levada agora ao cinema, é o livro de cabeceira de muitos ingleses.

Como a crítica considera “Um Dia” um clássico moderno, Anne entende que os fãs se incomodem com a materialização de uma personagem tão querida. “As pessoas se sentem donas de Emma e é natural que não queriam que você cometa qualquer erro”, suaviza.

Ela mesma diz que, caso não fosse a própria intérprete, teria diversas restrições sobre quem deveria fazer a personagem que, por 20 anos, encontra-se todo dia 15 de julho com o colega de faculdade Dexter (Jim Sturges, de “Caminho da Liberdade”). Mais do que uma história de amor e amizade, o livro de Nicholls faz um retrato de época contemporâneo (os encontros vão de 1988 a 2007) sem a visão romântica do casal “feitos um para o outro”.

O próprio autor do livro suavizou a polêmica em torno do sotaque da atriz. “Entendo a preocupação, mas atores britânicos estão constantemente interpretando papéis de americanos e sempre foi visto como uma coisa tranquila. Não vejo razão pela qual não possa acontecer o mesmo do outro lado”, defendeu Nicholls, que também assina o roteiro.

Na história, Dexter é um sujeito arrogante e com excesso de autoestima, enquanto Emma é seu oposto: extremamente insegura e delicada. “Toda garota sente que ela é a Emma Morley”, teoriza a atriz sobre a grande identificação que o público tem com sua personagem. Com o passar dos anos, Emma vai crescendo e formando uma personalidade, o que exigiu de Anne mudanças sutis. “Ela não é uma garota que muda, apenas evolui. Emma sabe quem ela é, não precisa experimentar novas personas e sim aperfeiçoar o que ela já tem, por isso foi muito divertido trabalhar em seu olhar”.

Mas a fase parece não ser a das melhores para Anne Hathaway, que também ouviu sonoras críticas por encarnar outro ícone pop. Apesar de bonita, a atriz nunca foi considerada um símbolo sexual e a divulgação das primeiras fotos da sua versão de Mulher-Gato não causaram uma boa impressão na maioria dos fãs. Com a inesquecível imagem da sensual felina criada por Michelle Pfeiffer em “Batman – O Retorno” (1992) na cabeça, os nerds não gostaram do visual realista e simples proposto por Nolan.

Conhecida por seu bom-humor, a atriz quase ficou séria ao responder que não é possível julgar o desempenho apenas pelas fotos e que o público deve esperar o filme para decretar se sua Mulher-Gato funciona ou não. “Estou feliz em dizer que, se você não gostou da foto, você viu apenas um décimo do que a roupa pode fazer. Se você gostou, tem muito bom gosto.”

A resposta nervosa reflete esse período de insegurança da atriz, que vem sofrendo abalos desde sua afetada Rainha Branca. Sua apresentação no Oscar também não agradou a todos, apesar de ter se esforçado com os números musicais e as piadas. Durante a cerimônia, ela chegou a brincar com o próprio fato de não ter sido indicada ao prêmio de melhor atriz apesar das cenas de nudez em “Amor e Outras Drogas”. “Houve um tempo em que tirar a roupa era indicação certa para o Oscar. Não mais… não mais…”, disse cabisbaixa, mas em tom de ironia, ao lado do colega James Franco, que foi indicado ao prêmio naquela edição por “127 Horas”.

E é com esse bom humor que a atriz está tentando voltar às graças do público, nem que tenha que arrancar a roupa novamente e atuar em silêncio. “Fico muito mais confortável com a nudez do que com o sotaque. Vai ver, é porque tenho mais experiência em minha vida ficando nua do que fingindo ser britânica”, brincou.

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